segunda-feira, 29 de maio de 2017

Dona do Raio: O Vento (Maria Bethânia)



É vista quando há vento e grande vaga
ela faz um ninho no rolar da fúria
e voa firme e certa como bala.
As suas asas empresta à tempestade
quando os leões do mar rugem nas grutas,
sobre os abismos, passa e vai em frente.

Ela não busca a rocha, o cabo, o cais,
mas faz da insegurança a sua força
e do risco de morrer, seu alimento.
Por isso me parece imagem justa
para quem vive e canta no mau tempo.

O raio de Iansã sou eu,
cegando o aço das armas de quem guerreia.
E o vento de Iansã também sou eu
e Santa Bárbara é santa que me clareia.

A minha voz é o vento de maio
cruzando os ares, os mares, o chão.
Meu olhar tem a força do raio
que vem de dentro do meu coração.

O raio de Iansã sou eu,
cegando o aço das armas de quem guerreia.
E o vento de Iansã também sou eu
e Santa Bárbara é santa que me clareia.

Eu não conheço rajada de vento
mais poderosa que a minha paixão.
Quando o amor relampeia aqui dentro,
vira um corisco esse meu coração.
Eu sou a casa do raio e do vento,
por onde eu passo é zunido, é clarão...
Porque Iansã, desde o meu nascimento,
tornou-se a dona do meu coração.

O raio de Iansã sou eu...

Sem ela não se anda,
ela é a menina dos olhos de Oxum,
flecha que mira o Sol:
Oyá de mim.


quarta-feira, 17 de maio de 2017

Feministo

Uma farsa.
Quem escapa?
Não tem um.
É legal,
sangue bom,
boa praça.
Mas não escapa
de ser farsa,
simplesmente,
porque não trata
mulher como gente.
É dormente.
É ausente.
Não cresce.
Adormece
um eterno
adolescente
homem sendo.
Desvoluindo.
Oprime mãe
e esposa,
cala sempre a amante.
Não assume.
As silencia e questiona.
Mas, sempre que pode
chama as mulheres
- Meu véi, não me fode! -
para lutar por direitos.
Menino:
começa com jeito!
Lava a cueca
suja de merda
e, depois,
só depois,
a gente conversa.

Feliz aniversário, Aféfé Oyá!

Hoje é dia de comemoração! Há exatamente 1 ano nossa bike familiar Oyá entrou em nossas vidas, facilitando a logística por bicicleta de uma família composta por uma mãe e duas crianças já grandinhas.



Usamos por muitos anos nossa querida Olga Benario – bike que ainda é usada por mim de forma individual agora, e muito, mas MUITO querida, por ter me reiniciado no mundo do cicloativismo, por ter segurado tantas onda junto comigo e com meus filhos, seja transportando a gente no “ajeitadinho” de gambiarra de uma mãe um pouco maluca, que nunca teve medo de arriscar, mas justamente por ela sempre ter sido uma bicicleta que mostrava uma força fenomenal.

Mas chegou naquele período em que eu percebi que estava arriscado demais levar duas crianças pesadas numa MTB, com a cadeirinha frontal já ultrapassando em muitos quilos o limite máximo de peso (meus parabéns às cadeirinhas Kalf, que seguraram muita onda também, já que a dianteira chegou a transportar diariamente 22kg de Nina, quando o limite máximo era de 15kg – NÃO FAÇAM ISSO, OK?).



Porém, sem grana para nada extra, acolhi a sugestão de uma amiga: faz uma vakinha de aniversário pra comprar uma bike de carga! Pois fiz. E foi linda a adesão das pessoas. Consegui arrecadar a grana suficiente para a bike de carga e colocar mais um monte de acessórios nela. Troquei pedal, quidão, e ainda hoje eu continuo “tunando” aquela que, hoje, é a cargueira mais linda da cidade do Recife.



Nossa Aféfé Oyá, por onde passa, deixa um rastro de sorrisos e cores. Tem logo no guidão, guiando nossas pernas, a imagem da santa que foi homenageada, minha mãe no Candomblé. Sobre a deusa, é ela quem comanda os ventos, tem caminhos com Obaluaê e Egun. Veste vermelho e branco, também usa coral. Aféfé, o vento, a tempestade, acompanha Oyá e a leva para onde ela deseja ir. Oyá é orixá guerreira e forte, pouco “feminina”, pois a guerra é sua prioridade. Mãe de 9 filhos. Nenhum nome poderia ser mais adequado: mãe, guerreira, não tão feminina como ditam os estereótipos culturais, não é doce e deliciada, mas é amor e paixão em excesso, forte, temperamental, mas nunca deixa nunca seus filhos na mão. É pau pra toda obra, e se alguma coisa a contraria, sua capacidade de guerrear é pura e simples tempestade.





Então, hoje, 17 de maio – um dia antes de meu aniversário de 43 anos, venho aqui para, novamente, agradecer todas as pessoas que me proporcionaram (a mim e a minhas crianças) ter um veículo eficiente como é nossa Oyá. E comemorar seu primeiro ano de vida, já com muitas aventuras e até uma viagem para outro estado.



As cargueiras são bicicletas absolutamente incríveis. A todas as pessoas que têm algum preconceito com elas, recomendo que repensem. São bicicletas leves demais para pedalar (apesar de serem pesadas para carregar nas costas subindo a escadaria do metrô hehehehe) e substituem com honras e méritos um carro, sem ocupar o espaço que o carro ocupa, sem pôr em risco as vidas que o carro põe, transportando com maestria três ou quatro ou mais vidinhas em seus bagageiros ou quadro. São bicicletas populares, de fácil acesso mesmo para quem tem pouco poder aquisitivo. Aguentam sem frescura qualquer tranco que lhes seja imposto.



Eu, hoje, almejo uma bicicleta fixa para sair voando pelas ruas de Recife, e uma dobrável para meu filho. É possível que consiga. Mas a cargueira... Ah, isso aí é amor eterno. Sem dúvida.

terça-feira, 16 de maio de 2017

Sobre Amizades Problemáticas e Falsa Sororidade

Recentemente, eu me vi numa situação extremamente estranha de amizade com uma moça. Já fiz inúmeras reflexões a respeito de tudo o que aconteceu e, hoje, percebo é possível que eu tenha vivido um relacionamento abusivo de amizade entre mulheres. No mínimo, um relacionamento bastante problemático e obsessivo, especialmente pelo fato da figura se autoentitular como poliamorista/relacionamentos livres, o que me deixou inúmeros questionamentos na cabeça a respeito do que era essa amizade e de como ela enxergava, na verdade, esse lance de RLi (e que fez com que eu tenha cada vez mais resistência a isso), mas falarei sobre isto mais no final deste texto. Agora vou apenas descrever um pouco os fatos.

A figura era contato de uma rede social. Aparentemente, era minha “fã” (detesto esse título, mas a própria se descrevia desta forma). Em janeiro de 2016, essa figura se aproximou mais, vendo a necessidade que eu tinha (e tenho ainda!) de algum suporte com a minha vida tão sobrecarregada de mãe solo, mulher trabalhadora que perdeu quase que totalidade de sua liberdade de ir e vir por causa do abandono paterno associado a uma conjuntura econômica nada favorável. Não havia muita possibilidade de aumentar a fonte de renda em função das demandas de cuidados das crianças, e isso criou uma bola de neve de falta de liberdade: sem ter como sair para ganhar mais e pagar alguém que pudesse olhar as crianças, sem poder sair para respirar por não ter com quem deixar as crianças nunca.

Então, essa figura salvadora da pátria aparece, do nada, por inbox, se oferecendo de todas as maneiras possíveis para cuidar dessas crianças. Obviamente, a mãe desesperada porque precisa trabalhar e não pode mais contar com o período integral da escola que ela não consegue pagar, aceita essa aproximação, e acha muito linda a demonstração de sororidade vinda de uma pessoa que não tinha sequer filhos. UAU! Que linda ela! Que moça incrível, nem me conhece e já quer me ajudar assim, de maneira tão prática, tão “mão na massa”! Caramba, não é que a tal da sororidade parece que existe mesmo?!?!



Então, nos aproximamos. Com pouco tempo de aproximação, eu já a considerava muito amiga, desprendida, massa, tudo de bom essa menina, poxa! Daí um detalhe importante: eu estava em um estado emocional extremamente crítico, tinha acabado de terminar um ~relacionamento~ (cof cof) mal-resolvido com um cara que amava/amo muito e, aliado à crise de depressão, encontrava-me numa situação de desespero para encontrar qualquer pessoa que pudesse preencher aquele vazio e aquela dor. Então essa moça – que é bissexual como eu – soltou um inocente “Ei, Paty, você não quer ser minha crush não?”. Aquilo, não sei bem porque, me encantou. Aquela menina linda, disposta a me ajudar e super legal estava interessada em mim, justo num período que minha autoestima estava um lixo. UAU! Que massa! Chegamos a ficar uma vez, foi legal, mas depois fui acometida por um sentimento de culpa enorme, de que estava errado em tentar substituir um afeto por outro assim, de forma compulsória, forçada e desesperada. Entendi que precisava dar um tempo pro meu coração se acalmar de tanta angústia e desespero. E fui bem clara com ela, expliquei que ainda estava muito ligada ao boy com quem eu tinha terminado e que não era justo fazer isso com ela.

De boa. Amigas apenas, então. Né? É.

Cerca de dois meses depois, após aproximações mil e contatos diários, ela fala que precisa conversar pessoalmente comigo. Vai lá em casa num domingo para perguntar se “há problemas de transar com o cara” com quem eu tinha esse lance e com quem eu tinha terminado (e nessa altura, já tinha reatado o romance eterno e sem fim com ele). Gelei, né? Insegura, depressiva, em crise de ansiedade aguda e em crise depressiva desde 2014, aquilo acabou comigo, com minha autoestima.  Eu respondi que sim, que havia problemas SIM, que finalmente eu assumi para mim mesma que eu sou uma pessoa ciumenta (em função das próprias circunstâncias emocionais). Ela apenas me pergunta “você é monogâmica”? Me senti culpada por admitir que sim, sou. Depois eu entendi que não há nenhum problema nisso, faz parte do meu eu emocional ser insegura, e essa insegurança traz ciúme por medo da perda, é diferente de ciúme por posse. Nada de errado com isso, estamos trabalhando essa insegurança na terapia, eu não tinha que sentir culpa por sentir isso. Mas senti. Começaram os problemas.



Tentei relevar e dizer que, como eu gosto de, esporadicamente, uma brincadeira mais caliente no sexo, não teria problemas se eu participasse junto. É, um ménage. Foi essa a minha proposta. Meio louca, né? Não, não é. Não para mim. Enfim, acabou rolando. Mas depois bateu uma nóia enorme em mim, de querer saber detalhes como ele a procurou. Depois de muita treta, envio de prints selecionados por ela do que ela queria que eu visse, ela (por iniciativa própria) me deu a senha da rede social e eu fui lá ver todo o bate-papo deles. Foi quando eu percebi que: ela tomou a iniciativa do primeiro contato, alegando ser assunto profissional. Ela respondeu positivamente à brincadeira mais quente e trocaram nudes antes de me falar (eu soube por ele, logo no dia seguinte à conversa, mas ela me escondeu isso até me dar a senha e eu a pressioná-la). Ela disse a ele que EU havia dito que não haveria problemas deles dois transarem ~depois~, contanto que rolasse com os três antes, e eu NUNCA falei isso. Pelo contrário, sempre deixei claro que se rolasse os dois, EU NÃO QUERIA SABER, mas que eu preferia MESMO que não rolasse, mas que essa escolha não era minha. Depois, ela disse que não entendeu assim. Arram. Depois de criado por mim um grupo virtual composto pelos três elementos numa rede social, que foi criado com o intuito da brincadeira a três ser SÓ a três, ela puxa conversa com ele em privado perguntando se vão ficar falando só pelo grupo. Oi?!? Haja pulga começando a se instalar atrás da minha orelha.

Terminei de novo com ele, continuei amiga dela. Essa terminada com ele foi a mais definitiva, havia cortado todos os contatos. Mas, vira e mexe, ela falava dele, cutucando a ferida aberta. Pior: sabendo que era uma ferida muito aberta ainda e que eu sofria muito com a ausência dele em minha vida e na das crianças. Então, viajei para palestrar em um evento de bike em outro estado com minhas crias. Minha surpresa: a moça me avisa que comprou passagem pra me ver palestrando. UAU! Mas, pera... Tá demais, num tá não? Fala comigo absolutamente TODOS os dias pelo WhatsApp, se oferece QUASE TODOS os dias para me ajudar com as crianças, cai em cima nesse lance de estar presente o tempo todo demais, mas cobra minha presença no mesmo nível (mesmo sabendo que minhas atribuições maternas não me permitem tanta disponibilidade)... Comecei a estranhar, mas, enfim.
Depois desse evento, ela arrumou uma bicicleta, mas não antes sem criar mais uma treta: de que o boy (é, aquele mesmo, da ferida aberta) se ofereceu pra dar uma força pra ela pedalar lá na ocasião da viagem em que eu palestrei e ela foi, já que havia se submetido a uma cirurgia cerebral que comprometeu sua coordenação motora, e eu a estimulei dizendo que o ato de pedalar iria ajudar bastante. Mas ela chega, sabendo que eu estou numa super bad por causa da depressão, milhões de problemas pessoas e de saúde, e pergunta se haveria problemas que ele a ensinasse. Como sempre: TEM PROBLEMA SIM. Falei com todas as letras. Eu queria esquecer o fantasma que ela fazia ressurgir das cinzas o tempo todo. Falou, depois, no meio da treta, que me deu a senha acreditando que eu não iria acessar (oi?). E haja treta. E ela só relembrando e cutucando fatos que desencadeavam crises loucas de ansiedade.



Aí, o estopim: a pessoa, em janeiro de 2017, me manda uma mensagem dizendo que está se sentindo “usada”, que ela só servia quando eu queria algum suporte com as crianças (que peso, hein?), que estava achando a relação desigual, e pediu que eu LISTASSE todas as coisas boas que eu já fiz para ela. Gente. Como é isso? Sororidade é moeda de troca? A figura SEMPRE soube, a vida inteira, que eu não tinha tanta disponibilidade de me doar quanto eu desejava, justamente por conta das minhas próprias atribuições de vida e com minhas crianças, sabem? Não é mole eu ser a única pessoa responsável por três vidas (no caso, eu e minhas crianças). Eu sempre deixei isso bem claro a todo mundo que se oferece para me ajudar, mas eu sempre deixei mais claro ainda que eu NUNCA QUIS que as pessoas sofressem ou sacrificassem a própria vida para me ajudar, que eu entendo que cada uma tem suas próprias demandas.

Foda isso. Mais do que ela ter perguntado se tinha problemas em transar com o boy, mais do que as inúmeras tretas virtuais em que ela me envolveu – porque sim, teve mais treta envolvendo terceiras pessoas, visto que cheguei a receber uma mensagem de uma ex-amiga dela perguntando porque eu era essa pessoa tão “ruim” assim, que “fica inventando coisas” de pessoas que eu nem conheço (!!!), inclusive essa mesma moça ex-amiga tem a mesma queixa de que ela perguntou se haveria problemas em transar com o boy que ela amava. Igual como rolou comigo.

Velho. Caiu a ficha então. Uma coisa obsessiva. Descobri, já com todas as pulgas do mundo atrás da minha orelha, que ela stalkeava TODAS as minhas redes sociais diariamente, além de perguntar todos os dias “como você está hoje?” de forma compulsiva e diária pelo WhatsApp. E, confesso, isso me incomodava, porque dava sempre a impressão de que eu era vista como doente ppor ela em 100% do tempo. Sabia de todos os meus passos. Azarou o boy que eu amava  (ou deu cabimento à azaração dele). Decidiu começar a pedalar (até aí, massa, adoro ser esta influência), mas queria uma bike de carga igual à minha para “viajar”, mesmo eu dizendo que a cargueira não era a melhor opção para cicloviagem. Cobrava presença. Não me deixava respirar. Uma coisa patológica, mas cuja figura, pelo jeito, nunca vai admitir que precisa sim de ajuda especializada, pelo jeito.



Espero estar errada, mas no meu entendimento, a figura parecia que queria ser eu, roubar meu lugar no mundo. Uma amizade bastante problemática. E, definitivamente, já tenho problemas emocionais demais para ter que viver um relacionamento de amizade nesse nível de paranóia. Não tive dúvidas: cortei relações. Bloqueei de tudo.

Outro aspecto que me veio à tona após eu me afastar e após muitas reflexões sobre quem ou o que era ela foi a de que existem pessoas que se autodenominam como fazendo parte de um grupo que acredita em "relacionamentos livres", porém, não percebem que isso acabou sendo direcionado APENAS para relacionamentos amorosos/sexuais em si, ou seja, não querem muita profundidade e cobranças em relacionamentos amorosos, mas descarregam todas as suas carências e fendas emocionais em relacionamentos de amizade. Ou seja, cobram, sufocam, fazem violência psicológica, mexem com a autoestima e oprimem pessoas com quem têm relacionamentos mais estreitos de amizade. Esquisito, né? Eu acho.

E tenho medo sim. Já vivi um relacionamento (que não era de amizade, mas amoroso, só que também obsessivo) com uma pessoa doente e que não se enxergava como doente e boa parte dos problemas emocionais e traumas que eu carrego hoje foram oriundos dessa relação. Não preciso, não posso, não quero.

2017 chegou e trouxe com ele uma grande determinação para minha vida: a de correr longe de tudo e todos/as que podem me fazer mal. Desta forma, corri dessa amizade sim. Recentemente ela deixou um pote cheio de paçoca na minha portaria com uma carta que, mais uma vez, me fez sentir culpada: mais uma vez muitos julgamentos a respeito da minha “falta de preocupação com ela” usando como comparativo a dedicação dela a mim, mas finaliza falando que gosta muito de mim e sente saudades. 

Tremi toda. Sim. Mais uma crise de ansiedade cujo gatilho foi uma pessoa que esteve envolvida como agente causadora ou como suporte de muitas outras que tive no nefasto ano de 2016.
Não. Esse tipo de amizade não é para mim. Agradeço tudo de bom que ela fez por mim, mas o mal que ela me fez, as crises engatilhadas por ela, não estão no gibi. E de drogas eu estou fora, além do meu chá de casca de mulungu para depressão, não quero esse tipo de falsa ajuda na minha vida.


Obrigada de nada.

EDIT: tive medo de divulgar esse texto. Por simples e puro medo de que ela veja. Uma relação que traz medo, crise de ansiedade, choro, angústia e sensação de sufocamento, definitivamente, não é uma relação saudável. Portanto, não permiti comentários aqui. Única e simplesmente por medo dela comentar. Percebem como a coisa fugiu do meu controle? Como mexeu patologicamente com um emocional que está ainda sendo reconstruído? Foda. 

Mas sim, eu precisava desabafar.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Feliz Dia das Mães (para quem mesmo?)

Ser mãe não é nem nunca foi tarefa fácil. A maternidade exige muito amor, paciência, criatividade, trabalho braçal e uma bela dose de resignação. Ser mãe-solo é precisar, muitas vezes, abdicar da própria vida e anseios pessoais em benefício da formação de um novo ser humano. É ter, em uma cultura patriarcal, que arcar com todas as cargas da formação de uma ou mais pessoas, sem a ajuda de praticamente ninguém, e ainda ter que prover o sustento e a educação desta(s) criança(s).



Ser uma mãe-solo feminista é ainda mais difícil. É se entender como formadora de uma ou mais pessoas que serão um possível elemento de mudança social e cultural. É nadar contra a maré o tempo todo, sempre “deseducando” nossas crianças do que eles aprendem com a cultura hegemônica, extremamente machista, racista e homo-lesbo-bi-transfóbica.

É quando desestimulamos os nossos meninos a reagirem sem a agressividade que é estimulada pela cultura, e os ensinamos a não serem os predadores de mulheres que querem que eles sejam, como se isso fosse um elemento fundamental à sua auto-afirmação como homens.

É tentar ensinar às nossas meninas que elas precisam aprender a galgar seus espaços, a reagirem e se defenderem de um mundo que não valoriza as mulheres nem seus feitos, mostrá-las que não é tão legal ser uma princesa dócil e submissa porque sabemos que isso as deixará mais vulneráveis às violências, enquanto a nossa cultura as estimulam a se comportarem “como uma mocinha” ou que “princesas andam sempre lindas, caladas e de pernas fechadas”.

É não explorar a mão de obra de outra mulher dentro de casa e não-terceirizar maior parte dos cuidados com as crianças para conseguirmos conquistar nosso espaço no mercado de trabalho. E isso gera uma sobrecarga humanamente impossível. Com todas as letras: IM-POS-SÍ-VEL. Dar conta da criação dessas crianças com qualidade, o que inclui rigor e afeto em doses saudáveis, sendo praticamente a única referência constante e presente na vida dessas crianças, juntamente com o ter que dar conta do trabalho fora de casa para a subsistência, e, além disso, ainda dar conta de todas as tarefas domésticas praticamente sozinha: só quem sabe o quão desgastante é ter que fazer isso tudo junto é quem vive essa realidade.



E mães, quaisquer delas, ainda precisam lidar diariamente com os julgamentos e pitacos de quem não vive a vida que ela vive. Mães são silenciadas o tempo inteiro, não podem pedir ajuda. Não podem reclamar da sobrecarga que a maternidade traz porque isto é, imediatamente, visto de forma negativa, como se esta mulher fosse um ser insensível e egoísta que não pensa nos filhos ou, mesmo, que não os ama.

Mães-solo precisam trabalhar, mas não podem levar os filhos à creche por falta de vagas, escolas públicas de tempo integral são extremamente escassas na educação infantil/ensino fundamental (ou seja, nas fases em que as crianças mais precisam de cuidados e monitoramento adulto 24 horas por dia), e também não podem levar as crianças ao trabalho, porque as empresas, quer sejam elas públicas ou privadas, não movem um dedo para que esta mãe possa ter um espaço dentro do ambiente de trabalho que deixe a criança segura e a mãe tranquila. Trabalhamos em um mundo que ainda pensa que apenas o homem é o chefe da família e que as mulheres estão dentro de casa cuidando das crianças, quando sabemos que mais de 50% das lideranças familiares são mulheres que estão sozinhas arcando com tudo.



Neste mês de maio, bem próximo ao dia das mães, é emblemático receber o presente de ser comunicada que não poderei mais levar minhas crianças ao trabalho no dia em que eles não tiverem aula. Pergunto como farei, já que a escola (pública) em que eles estudam não é de tempo integral (além de ocorrer uma quantidade enorme de dias em que não há aula) e também não há recursos para pagar uma cuidadora por mais períodos do que já se paga (sob o risco de faltar recursos para a alimentação da família), e também por não ter absolutamente ninguém da família que possa dar este suporte - pelo menos não de forma rotineira e constante, visto que todas/os têm suas próprias atribuições de trabalho.

A resposta ao meu questionamento foi um simples “se organize”. O bom e velho “se vire” ou “dê seus pulos”, só que em palavras mais formais. Detalhe é que estamos falando aqui de um órgão público do estado que luta pelos direitos das mulheres na sociedade. É isso mesmo. Imaginem em outros locais!

E não há como não pensar que, enquanto isso, um genitor vive uma vida de pessoa sem filhos, ausente dos piolhos, das mudanças de temperamento do filho que está entrando na adolescência, da adaptação à escola pública. Ausente dos xiliques que a caçula tem tido, das crises na autoestima dela, das crises de depressão de uma mãe sobrecarregada, da agonia pela falta de dinheiro e ter que pedir emprestado todo fim de mês ou que alguém consiga para ela, pelo menos, uma cesta básica para não passarem fome. Ausente de tudo, emocional e materialmente falando. Uma pessoa sem filhos.

Esperemos, então, que ele seja bastante presente junto aos companheiros de cela de cadeia. O processo já corre há cerca de três anos. Já foi arquivado e reaberto. Estamos há meses aguardando a citação. Lento. Porém, diante de um mundo em que a justiça é tão defensora dos homens e silenciadora e castradora das mulheres, fica difícil até manter as esperanças acesas.


Mas, infelizmente, o que nos resta, não é mesmo?

sexta-feira, 24 de março de 2017

10 tipos de homens que nós, mulheres, devemos evitar


[Para todas as mulheres, independente da orientação sexual]




1. O cara que te esconde

Esses tem desculpa pra tudo, diz até que têm medo de exposição e são discretos.  Quer te convencer que é reservado e tenta proteger a relação de olhares invejosos.



2. O boy agressivo

Muito nervosinho, esse já tem até histórico de agressão. Qualquer coisinha é motivo para explodir e te tratar mal.




3. O que é desrespeitoso com a mãe

Este é rude/cruel com a própria mãe. O que te faz pensar que ele será diferente com você?



4. O gay misógino

Já tive amigos assim que ficaram no passado. Eles adoram comparar ppk a bacalhau e dizer, por exemplo, que sexo sem pênis não é sexo. Muito cuidado, pois eles disfarçam bem, são fãs de divas pop e querem que você acredite que é só brincadeira.



5. O escritor que é um encanto

Ele escreve poesias, Rap, fala de amor, defende mulheres nas batalhas, mas todo mundo sabe como é abusivo e já fudeu o psicológico de várias minas da cidade. Estamos de olho, viu???


(Lady Laay - DISSrespeito à Mulher - Clipe Oficial)

6. O feministo

Esse diz que existem homens feministas e é grande defensor de mulheres, mas só até elas o contrariarem. Não perde oportunidade de ser babaca, gritar e cortar as falas de mulheres.




7. O apaixonado que te cozinha

Pra ele, o lance de vocês já nem é mais lance, mas ele esqueceu de te avisar. Faz você acreditar que tá sem tempo e que logo vocês terão um momento juntos.  Faz você se sentir louca, insegura, inadequada.



8. O amigão das minas

Finge te compreender, mas usa tudo que você compartilha com ele contra você. Cuidado, que esse é o tipo que está sempre com muita mulher por perto.




9. O maldito que agride animais

Não precisa nem comentar. Você já viu ele maltratando cães/gatos/bichinhos.


10. O que reproduz racismo/gordofobia nas relações afetivas

Estes podem ser racistas dos mais escrachados ou apenas tem um ideal de mulher para se relacionar (branca e magra) e usa todas as outras que não estão dentro do padrão de beleza eurocêntrico que tanto venera.




11. Aquele boy negro que tem muitas trocas afetivas e sexuais com mulheres negras na intimidade, divide por exemplo as frustrações racistas que passa diariamente, porém publicamente só namora mulheres brancas




12. O que não entende os seus limites na cama

Resumindo: se não respeita as suas vontades e seus limites é um estuprador.




E aí, meninas, poderia listar mil, mas quero ajuda de vocês. O que tá faltando nesta lista?

quarta-feira, 22 de março de 2017

Multimodal dentro do cotidiano

Hoje, às 08h05 da manhã, estou utilizando meu terceiro modal do dia:
1. Levei as crias de carro pra escola, voltei pra casa, deixei o carro no prédio e a chave com a vizinha, que usa o carro durante o dia todo (a gente compartilha o meu carro e divide as despesas proporcionalmente ao uso);
2. Peguei minha Olga e fui pedalando até onde o corpo disse "pare!" (ainda tou meio coisadinha por causa da dengue seguida de abscesso dentário das últimas semanas), estacionei a bike num supermercado;
3. Fui para a parada de ônibus mais próxima e já tou dentro do busão a caminho do trabalho. Um pouco atrasada, eu sei, mas o busão não tem colaborado muito com o horário esta semana.
É isso. E eu adoro.



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